Sábado, 31 de Janeiro de 2004
...quero apenas deixar um espaço em branco...
...um espaço em branco para escrever a memória...
...a memória dum simples futuro ausente...
...ausente dum passado que ainda se sente...
...no presente...
Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2004
tenho defendido há já alguns anos, a ideia de que o Universo não é aquilo que nos dizem que ele é mas sim aquilo que eu digo que é! Isto nada tem a ver com presunção, tem a ver com a realidade que cada um de nós fabrica
não és tu ou ele que me diz o que é a minha realidade ou a minha verdade, da mesma forma que ninguém me diz o que é ou como é o Universo; sou eu que faço o meu e cada um de nós fabrica o seu próprio Universo
o conhecimento que cada um de nós possui da realidade que nos cerca, é um saber individual (ainda que possua saberes colectivos) pois ele é obtido através dos nossos sentidos que transmitem ao nosso cérebro o que nos rodeia
nada mais objectivo do que se afirmar que um invisual não vê e por muito que se lhe diga o que é a Lua, ele fará sempre um ideia por ele fabricada e nunca conceberá a minha Lua
a Lua que eu vejo não é a mesma que ele vê
daí que, não existe um Universo único igual para todos; existem biliões de Universos, um para cada um de nós, um para cada ser que o vê, o cheira, o ouve, o saboreia e o sente
não é difícil provar esta tese; parece que numa forma primária a simplista, todos estarão de acordo comigo, já que cada um tem a sua própria verdade, ainda que existam verdades universais (sei lá, por exemplo, o sol é uma estrela e está quieto, sendo os planetas que giram à volta dele
) elas não se cimentam universalmente na medida em que esse saber não é possuído por todos os seres humanos
geneticamente trago comigo a memória dos genes de meu pai e de minha mãe; trago comigo alguns saberes mas outros foram adquiridos por mim e não por eles; criei os meus dados, elaborei as minhas listagens, fiz os meus mapas, etc., em tudo de uma forma muito diversa dos deles
assim eu tenho o meu Universo e minha mãe, por exemplo, com quem vivo num mesmo espaço e num mesmo tempo, tem o Universo dela
o meu Universo tem galáxias; o Universo de minha mãe não tem
o meu Universo tem um satélite que gira à volta do meu planeta, que recebe a luz do sol e a reflecte para a terra; o Universo de minha mãe tem uma lua que vai crescendo e que tem luz à noite e que depois desaparece mingando aos poucos
o meu Universo tem sistemas estelares a milhares de anos-luz; o Universo de minha mãe tem pontinhos brilhantes que se acendem à noite e que estão ali em cima
o meu Universo tem o sentido da perspectiva; o Universo de minha mãe não tem
o meu Universo tem coisas imensas que não existem no Universo de minha mãe
então, como pode ser?
o grande problema é que os nossos dois universos não se complementam nem interagem; pura e simplesmente não coexistem por serem diferentes; desta forma, pergunto como posso existir num Universo onde minha mãe não existe e, da mesma forma, como pode ela existir no meu?!...
a que se deve então a existência de dois universos distintos se ambos possuímos idênticos sentidos? A resposta deverá estar, por certo, na aculturação de cada um de nós ou no acumular de conhecimento que cada um foi adquirindo
A pergunta seguinte será saber se o Universo é uma forma de conhecimento ou uma verdade universal?...
Terça-feira, 27 de Janeiro de 2004
...caprichosamente, as moléculas da água que de leveza em leveza se entrelaçam, se abraçam e rodopiam umas nas outras em efeitos de limpidez, pureza e talvez orgia...
Sábado, 24 de Janeiro de 2004
...e porque hoje gotas de chuva também me lavaram a alma
...e porque hoje também despi meu corpo e me olhei inteiro
...e porque hoje senti a sombra da minha ausência
...e porque hoje sorri à solidão e não fechei a janela
...e porque hoje abri a porta e entrei dentro de mim
...e porque hoje berrei o silêncio e o grito calei
...aqui vim e me quedei sorrindo do choro que ainda não chorei...
Sexta-feira, 23 de Janeiro de 2004
"Nem sõ de contraposições vive o Homem..."
Isto vem a propósito da forma como certas pessoas contrapõem aquilo que os outros põem, ou seja, da forma como outros opinam de maneira desigual.
Eu sou a favor da diferença e aceito a opinião de toda a gente; mas... sem querer obrigar os outros a aceitarem a minha opinião, eu tenho o sublime direito de ter a minha. Depois também tenho o direito de a exprimir da forma que entender sem que essa forma ofenda o direito dos outros. Utilizar a escrita é uma dessas formas e se existem pessoas que gostam de opinar, a verdade é que eu também gosto de opinar. Mas não opinar pela simples razão de o fazer: Opinar, contrapondo a opinião dos outros quando esta última tem valor bastante para ser contraposta. Contrapor apenas para "chatear" não tem qualquer piada nem sentido; agora, contrapor (opinar contra) algo que valha a pena, aí sim eu tenho de contra opinar!
A razão por que o faço é simples: É uma forma de respeitar a opinião dos outros, ou seja, aceitar apenas aquilo que me dizem é uma forma de estar na vida (não o nego e há muita e muita gente que o faz), mas essa não é a minha forma de estar na vida. Eu concebo a vida como algo de maravilhoso que Deus nos deu e se de alguma forma possuímos a "inteligência" suficiente para podermos entender os outros é óbvio que "adoro" que os outros também me possam entender. Por isso e daí... eu gostar de opinar. A opinião é sempre válida (ainda que ela seja totalmente contrária à própria lógica ou contra a opinião dos outros). Hoje não vou "contrapor" seja quem for; hoje, apenas quis dizer que gosto de contrapor mas como nem só de contraposições vive o Homem, hoje não quero contrapor!
Quarta-feira, 21 de Janeiro de 2004
...num verde prado uma queimada sob o vento leste debaixo de um sol brilhante num azul celeste...e porque amanhã vai chover...
Terça-feira, 20 de Janeiro de 2004
No desespero da minha impotência febril
duma vida desgastada
no mundo que me rodeia,
eu vejo a tristeza estampada
em teus olhos, cor de anil,
azulados pelas mágoas sofridas
num mundo perdido
na dor que odeias;
pela razão do existir
sem poder deixar de permitir
que a vida dite as vindas e as idas
nas lágrimas dum olhar pendentes,
de certezas gastas
de vazios esgares...
Por não haver pão,
nem ceia
nem lares...
E aqui estou,
febril de medo e de raiva,
por não ter força,
nem poder
para o mal fugir...desaparecer...
E aqueles teus olhos de anil olhar,
fugidios de um afago,
dum apelo,
dum sorrir,
quem sabe se dum dar...
Perseguem-me no perto do aqui estar,
no longe do não saber partir
e me ver ficar...
Sem nada fazer
para aquela cor de anil, mudar...
Domingo, 18 de Janeiro de 2004
...não havia nuvens para o sol penetrar...
Sábado, 17 de Janeiro de 2004
...preguiçosamente, o meu sol levantou-se hoje ao mesmo tempo que eu...
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2004
não usava relógio mas sabia a hora das refeições
falava comigo e entendia-me desde que eu falasse com ele
não tinha preconceitos e dormia partilhando a cama com outro
almoçava e jantava em conjunto com o seu companheiro
adorava o sol e escondia-se da chuva
não tinha medo de nada nem de ninguém
não usava óculos apesar de ver mal
não usava bengala apesar de coxear um pouco
era muito asseado e conquistador
também gostava dos meus pardais
deitava-se junto às minhas rosas nas tardes de sol
seu nome quico confundia-se com o meu
já não almoça nem janta com o meu cão
já não dorme com o seu inseparável amigo
já não fala comigo
já não namora os meus pardais
já não se deita sob a luz do meu sol
já não passeia no meu quintal
o meu gato morreu